-Com licença, tudo bem?
-Oi. Você...
-Eu sou a Tati, prazer. Moro naquele prédio ali do outro lado da rua. Tá vendo?
-Tô...
-Então. Eu tava em casa, na dúvida entre a água sanitária e o veneno de rato, e olhei pras minhas unhas e pensei que não posso ser velada com essas unhas descascadas, e desci pra fazer as unhas. Depois vou me matar.
-Sei. Vai pintar de que cor?
-Não sei. Que cor você acha? Roxo combina com quem vai morrer, não?
-Não sei. Qual dura mais? Afinal, estamos falando de eternidade, não?
-Menino, sabe que eu sempre quis falar de eternidade com um homem? Que bonito!
-Você é bem louca, né?
-É. -Bom, vou indo.
-Tá, mas antes, faz um favor pra mim?
-Mas eu nem te conheço...
-Eu vou me jogar no chão, você me segura?
-Oi?
-É que eu não posso morrer sem realizar o meu sonho. Me ajuda?
-O seu sonho é se jogar no meio da rua?
-O meu sonho é que um homem me segure.
-Só isso?
-Acha pouco?
-Tá, vai, se joga.
-Então... lá vai!
-Espera!
-O quê?
-Se é pra se jogar, se joga de frente! Coragem, mulher!
-Tá! Então... lá vai... ...
- Pronto! Já posso ir embora?
-Não! Deixa eu me jogar de novo?
E de novo? E de novo? E de novo? E de novo?
-Mas eu preciso mesmo ir.
-Tá.
-Ah, não faz bico. Olha, eu sou um estranho. Por que você não pede isso pra alguém que se importe com você?
-Porque é só eu pedir que eles viram estranhos, achei que se eu pedisse a um estranho, talvez ele se importasse.
-Sinto muito, querida. Tô indo nessa.
-Beleza. Vou pintar minhas unhas e depois me matar.
-Eu te ajudei um pouco, pelo menos?
-Pouco não serve pra nada, desculpa.
-Lembre-se disso quando tomar a água sanitária.
-Não sei...acho que eu vou de veneno de rato mesmo.
-Belê, tchau aí.
-Tchau. Trouxa.
-Por que, trouxa? Enquanto você esteve aqui, eu não deixei você cair!
-Eu sei, mas foi só pra pegar nos meus peitos.
Tati Bernardi
sábado, 13 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
No divã.
Enquanto mecho repetidas vezes o café amargo, em meio a “bom dias” e “vai fazer o que hoje“ percebo o quanto difícil é se afastar do ciclo tediante do hábito, rotina.
Não planejo nada, as coisas vão acontecendo, sem maiores controles, se tenho compromisso as 14 horas chego as 15 e 30, o que claro sempre rende muito falatório, estudar para alguma prova então, dificílimo, embora tenha desenvolvido o mecanismo de passar pelo livro de supetão e agarrá-lo repentinamente para não dar margem a fuga. Planejamento nunca teve lugar cativo no meu coração.
Odeio simetria, passos acertados e o sossego de uma vida regrada.
Mas me perco entre o caos e a negação de uma vida comum.
A boemia já não faz mas sentido, acordar tarde da sono e preguiça, negar o dia é viver no escuro.
Como, como, como fugir da burocracia e da lógica linear da vida?!
Não planejo nada, as coisas vão acontecendo, sem maiores controles, se tenho compromisso as 14 horas chego as 15 e 30, o que claro sempre rende muito falatório, estudar para alguma prova então, dificílimo, embora tenha desenvolvido o mecanismo de passar pelo livro de supetão e agarrá-lo repentinamente para não dar margem a fuga. Planejamento nunca teve lugar cativo no meu coração.
Odeio simetria, passos acertados e o sossego de uma vida regrada.
Mas me perco entre o caos e a negação de uma vida comum.
A boemia já não faz mas sentido, acordar tarde da sono e preguiça, negar o dia é viver no escuro.
Como, como, como fugir da burocracia e da lógica linear da vida?!
Versos Sol tos
Acho que estou pedindo uma coisa normal
Felicidade é um bem natural
Uma, qualquer uma
Que pelo menos dure enquanto é carnaval
Apenas uma
Qualquer uma
Não faça bem
Mas que também não faça mal
Cicatrizes.
Não sei porque algo que não me envolve, machuca tantotanto.
Felicidade é um bem natural
Uma, qualquer uma
Que pelo menos dure enquanto é carnaval
Apenas uma
Qualquer uma
Não faça bem
Mas que também não faça mal
Cicatrizes.
Não sei porque algo que não me envolve, machuca tantotanto.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
A Fuga da tripulação.
Ta aí algo que para mim vai ser sempre um grande mistério da humanidade, em que momento abandonar um barco que já não navega mais, ou ainda pior, que está prestes a afundar?
Entre a percepção e a consumação do pulo rola muita água. A priori, tentamos novas possibilidades para que a coisa engrene de uma vez, atitude que acredito eu seja extremamente válida, uma questão vital para honrar o nosso desejo, porque não entrar num acordo em meio ao que eu quero e ao que posso fazer , já fiz exaustivas reuniões comigo frente ao espelho, no ônibus(que alias é um lugar de reflexão profunda,continuando)para conseguir atingir um lugar comum.Beleza, mas voltando ao barco, já que foi percebido seu naufrágio, mesmo com esforços em retirar a água incansavelmente para retardar seu declínio, na falta de respostas positivas, porque não abandoná-lo de uma vez ?!Medo de cair na água gelada?! É verão e se ela for morna, anestesiará a dor? O orgulho sabe nadar? Provavelmente será o primeiro a se afogar.
Por enquanto tudo é muito vago, na falta de opção ou justamente por só existir essa opção, mergulhei na água antes de ontem, o mar está revolto, mas quem sabe não aparece uma jangadinha e me leva para águas mais calmas. Quem sabe.
Entre a percepção e a consumação do pulo rola muita água. A priori, tentamos novas possibilidades para que a coisa engrene de uma vez, atitude que acredito eu seja extremamente válida, uma questão vital para honrar o nosso desejo, porque não entrar num acordo em meio ao que eu quero e ao que posso fazer , já fiz exaustivas reuniões comigo frente ao espelho, no ônibus(que alias é um lugar de reflexão profunda,continuando)para conseguir atingir um lugar comum.Beleza, mas voltando ao barco, já que foi percebido seu naufrágio, mesmo com esforços em retirar a água incansavelmente para retardar seu declínio, na falta de respostas positivas, porque não abandoná-lo de uma vez ?!Medo de cair na água gelada?! É verão e se ela for morna, anestesiará a dor? O orgulho sabe nadar? Provavelmente será o primeiro a se afogar.
Por enquanto tudo é muito vago, na falta de opção ou justamente por só existir essa opção, mergulhei na água antes de ontem, o mar está revolto, mas quem sabe não aparece uma jangadinha e me leva para águas mais calmas. Quem sabe.
domingo, 18 de outubro de 2009
Versos Sol tos
.."Era o desejo de não ser um corpo como os outros corpos, mas de ver na superfície de seu rosto a tripulação da alma surgir do ventre do navio...O livro destinguia Tereza das outras moças, mas fazia dela um ser fora de moda. É claro que ela ainda era muito jovem para poder captar o que havia de ultrapassado em sua pessoa.."
A Insustentável leveza do ser.
A Insustentável leveza do ser.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
(Des) encontros
Cotidianamente uma diversidade fascinante de pessoas cruza nosso caminho. Há um trânsito interpessoal que atuam sobre nossa sensibilidade, como diria Manuel Bandeira, criando certo “tumulto emocional” através do contágio da nossa relação ativa como os encontros.
Você conhece os amigos (que se acham) engraçadinhos da sua prima; o pessoal miguxes, amigan-tipassim-teadóóro (L), que freqüentemente pega o elevador contigo; o marombado com cérebro inversamente proporcional ao tamanho dos seus tão cobiçados narcisicamente músculos, no aniversário da galera da praia conhecidos de sua mãe; ou pessoas como você que lêem bastante, são metidas a escritoras, mas logo percebem que até uma bula de remédio têm o pensamento melhor articulado que seus textos.
E finalmente é surpreendida ao conhecer alguém, bem por acaso, possuidor de uma gentileza agradável, com quem troca apenas algumas palavras soltas e uma conversa despretensiosa, mas não sabe nem seu o nome, muito menos lembra da fisionomia do dito cujo. Anônimos. Assim, ele desaparece na mesma multidão que o trouxe. Abruptamente.
Você conhece os amigos (que se acham) engraçadinhos da sua prima; o pessoal miguxes, amigan-tipassim-teadóóro (L), que freqüentemente pega o elevador contigo; o marombado com cérebro inversamente proporcional ao tamanho dos seus tão cobiçados narcisicamente músculos, no aniversário da galera da praia conhecidos de sua mãe; ou pessoas como você que lêem bastante, são metidas a escritoras, mas logo percebem que até uma bula de remédio têm o pensamento melhor articulado que seus textos.
E finalmente é surpreendida ao conhecer alguém, bem por acaso, possuidor de uma gentileza agradável, com quem troca apenas algumas palavras soltas e uma conversa despretensiosa, mas não sabe nem seu o nome, muito menos lembra da fisionomia do dito cujo. Anônimos. Assim, ele desaparece na mesma multidão que o trouxe. Abruptamente.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Lunática
Essa semana assistindo ao jornal vi várias reportagens sobre a Lua, falavam basicamente que a NASA está provocando uma serie de explosões em busca de água, coisa e tal. Bem, Lua além de lembrar a existência esquecida do meu blog, me faz recordar da minha doce e peralta infância. Eu era tão fanática pela Lua tal qual um típico torcedor flamenguista, ou de qualquer outro clube. Eu também vestia a camisa do meu time, que era minha caixa de papelão, ou melhor, minha aeronave, vivíamos pra cima e pra baixo. Anos se passavam e não parava de maquinar projetos mirabolantes de ida ao espaço, se até são Jorge tinha conseguido chegar lá, eu também poderia, ainda que não quisesse topar com nenhum dragão! Além do mais, as mulheres já tinham lutado pelo voto, queimado sutiã, a Lua seria apenas mais um obstáculo mirim feminino. Tantos Devaneios.
MAS toda essa conversa lunar é pra falar que às vezes sinto que não honrei parcela significativa dos sonhos da menininha da caixa de papelão, embora não tenha esquecido-os, assim como não abandonei o blog, que praticamente é uma ode tanto a Lua, quanto a inquietude. É isso!
MAS toda essa conversa lunar é pra falar que às vezes sinto que não honrei parcela significativa dos sonhos da menininha da caixa de papelão, embora não tenha esquecido-os, assim como não abandonei o blog, que praticamente é uma ode tanto a Lua, quanto a inquietude. É isso!
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